***Introdução
Estou de volta!!! Muitos acompanharam minhas postagens ao longo de tempos passados, mas desde o começo do meu mestrado, fui vítima das circunstâncias, de trabalho e estudos (também uma falta de espaço físico cruel). Assim, essa nova postagem demorou um longo tempo (4 anos) para sair... espero que retorne meu tempo mais ou menos livre para me dedicar a escrever sobre esses e outros assuntos...
A razão dessa postagem é algo que pretendia a muito fazer no Ensaio de Mestre, e que conduziu até mesmo a uma vídeo postagem no YouTube. Me refiro a meus posicionamentos, agora mais formais, sobre a famosa Revolução Francesa.
Essa revolução, embora tenha uma aura histórica para todos (e muito positiva para muitos), delineou a sociedade humana em quase todos os estágios e civilizações, dilapidando histórias, tradições e culturas. Os acontecimentos, pessoas envolvidas e ideias geradas foram tão marcantes, que é possível dizer que no presente, ainda vivemos desdobramentos e refluxos diretos ou indiretos dessa revolução...
A Tomada da prisão da Bastilha, em julho de 1789. Óleo sobre tela, anônimo. |
As razões para justificar meus posicionamentos não poderiam ser dadas sem um histórico das épocas antecedentes... Assim, como é de costume, como diria os bardos: “lá vou eu novo”... falar de História!!!
Como não poderia deixar de ser, solicito apenas que quaisquer discordâncias que se dêem com essa postagem (e até agradeço que se dêem), sejam sem jocosidades, insultos ou de baixo calão nas palavras... Esse é um espaço para exposição de ideias e quiçá diálogos e debates, mas na premissa de algo que espero que as pessoas tenham quando aqui passarem... educação!!!
Assim, comecemos do remoto passado, que remonta desde a Idade Média...
***Idade Média
Pode-se datar o início dessa famosa época famosa com a queda do Império Romano. Influências da cultura romana foram difundidas pela Europa, em especial após Carlos Magno se tornar imperador do Sacro Império da Nação Franca. Em paralelo, outros processos se iniciaram, como a separação dos membros da Igreja Católica no Oriente (que fundariam a Igreja Ortodoxa) e o desaparecimento da Igreja na África do Norte. Assim, apesar da expansão católica para outros povos, foi a Europa Ocidental o real berço da civilização cristã.
A sociedade européia seria assim fortemente influenciada pela presença do Catolicismo. A organização do trabalho não seria exceção. Características similares à organização do trabalho na antiguidade foram mantidas, mas em filosofias fortemente distintas:
- Na Antiguidade (em especial, a Grega), existia um sistema de castas estabelecidas, que impedia a mobilidade social, e criava uma estratificação social discriminatória. A concepção do trabalho manual é considerada indigna para o homem livre, que deveria se preocupar apenas com a meditação, a contemplação espiritual e os prazeres da vida. Logo, escravos deviam ser separados de homens livres (os cidadãos), sendo os escravos responsáveis pelos esforços manuais. Esse fato subvalorizava o trabalho manual, em detrimento do fomento intelectual. Essa mentalidade contribui para a organização civil na Roma Antiga, no que se refere ao patriciado, aos filósofos e a plebe;
- A Idade Média está vinculada ao ensino e à moral da Igreja. A concepção do trabalho exigia sacrifício, e sua aceitação levava ao fortalecimento espiritual. Assim, o trabalho era forma de produção associada ao crescimento interior. Essa visão ainda estabelecia a estratificação social, não discriminatória, mas baseada na organização segura da sociedade, e na relação cordial entre senhores e servos, onde os primeiros deveriam ter de justiça e proteção para com os segundos. Esse modelo se aplicava mesmo aos mosteiros, onde para evitar o ócio, os monges dedicavam horas aos ofícios comuns (cozinhar, trabalhos domésticos...). Era o início da "obrigação moral" do trabalho. Nascia também a terminologia "negócio" ("nec-otium", isso é, a negação do ócio) para caracterizar as pessoas ocupadas em quaisquer atividades que não conduzissem ao ócio.
A sociedade européia seria assim fortemente influenciada pela presença do Catolicismo. A organização do trabalho não seria exceção. Características similares à organização do trabalho na antiguidade foram mantidas, mas em filosofias fortemente distintas:
- Na Antiguidade (em especial, a Grega), existia um sistema de castas estabelecidas, que impedia a mobilidade social, e criava uma estratificação social discriminatória. A concepção do trabalho manual é considerada indigna para o homem livre, que deveria se preocupar apenas com a meditação, a contemplação espiritual e os prazeres da vida. Logo, escravos deviam ser separados de homens livres (os cidadãos), sendo os escravos responsáveis pelos esforços manuais. Esse fato subvalorizava o trabalho manual, em detrimento do fomento intelectual. Essa mentalidade contribui para a organização civil na Roma Antiga, no que se refere ao patriciado, aos filósofos e a plebe;
- A Idade Média está vinculada ao ensino e à moral da Igreja. A concepção do trabalho exigia sacrifício, e sua aceitação levava ao fortalecimento espiritual. Assim, o trabalho era forma de produção associada ao crescimento interior. Essa visão ainda estabelecia a estratificação social, não discriminatória, mas baseada na organização segura da sociedade, e na relação cordial entre senhores e servos, onde os primeiros deveriam ter de justiça e proteção para com os segundos. Esse modelo se aplicava mesmo aos mosteiros, onde para evitar o ócio, os monges dedicavam horas aos ofícios comuns (cozinhar, trabalhos domésticos...). Era o início da "obrigação moral" do trabalho. Nascia também a terminologia "negócio" ("nec-otium", isso é, a negação do ócio) para caracterizar as pessoas ocupadas em quaisquer atividades que não conduzissem ao ócio.
Vitral da Catedral de Chartres (França), ilustrando um ferreiro aplicando ferradura em um cavalo. A Idade Média foi marcada pela filosofia de trabalho como mecanismo de fortalecimento do espírito. |
Essa filosofia, na Idade Média, conduziu ao trabalho intelectual como forma de agir pelo próximo. Nos tempos de Carlos Magno, se deu umas das primeiras reformas da educação, orientada por monges católicos de seu reino, florindo assim a gramática, a dialética, a astronomia, a música, a aritmética, a geometria. Nascem, por isso, as universidades europeias (aliás, serão escolas catedrais as primeiras universidades: Bolonha, Paris, Oxford). Nasceram também os primeiros hospitais (razão da cruz na entrada de postos de atendimento voltados à saúde, pois o enfermo é imagem do Cristo que sofre). Para a higiene foram desenvolvidos os talheres... Nos órgãos públicos voltados a aplicação do Direito, eram postos crucifixos, para lembrar aos magistrandos a gravidade de juízos errados (aliás, a Inquisição Medieval se tornou a primeira instituição de cunho jurídico da História a declarar que confissão sob tortura era inválida, pois sob tortura se confessa qualquer coisa). Deu-se, sob influência monástica, a gigantesca compilação de obras da Antiguidade, incluindo a Bíblia. Devido ainda ao estudo científico universitário, se deram os desenvolvimentos de inúmeros inventos (os astrolábios, os moinhos, os relógios...). Na engenharia, o florir das grandes construções (os castelos e fortalezas, preparados para grandes defesas), além dos primeiros poços artesianos (para acúmulo de água potável), dos sistemas de aquecimentos central e das fontes para banhos públicos (não, o banho não foi excomungado...). Mais: se deram os primeiros testes da refração da luz, por Grosseteste, que conduziriam a criação dos óculos, e inspirando os primeiros microscópios e telescópios... Mais: a mecânica aristotélica foi definitivamente refutada, graças aos integrantes da Escola de Merton (Oxford), onde foi elaborado o Teorema da Velocidade Média. Mais: D’Oresme lançou estudos a respeito do movimento terrestre, dos quais Copérnico se valeu para suas teorias. Mais: com São Tomás de Aquino, teremos o primeiro compêndio da Alquimia. Mais: o padre Jean Buridanm desenvolveu a Teoria do Ímpeto, que foi usada na por Galileu e Newton em seus estudos.
Que período "inimigo" da ciência e do homem foi esse, não?
Mas para não perdermos o foco, entremos agora no período complexo que representou o fim da Idade Média...
****Dos períodos contemporâneos da Reforma Protestante até a Revolução Francesa
A outubro de 1517, Martin Luther lançou brado contra a Igreja Católica e a ordem social europeia, afixando 95 teses, no molde das discussões acadêmicas, na porta do castelo da cidade de Wittenberg, Alemanha. Tais teses propunham uma revisão da doutrina cristã à luz da simples leitura da Bíblia. Essas teses condenavam, entre outros, abusos e avarezas testemunhadas por Luther na aplicação das indulgências ensinadas pela Igreja. Essas teses se espalharam rapidamente pela Alemanha, e dariam início primitivo ao que hoje conhecemos como Protestantismo.
Essa corrente, diversa do Catolicismo, teria inúmeras interpretações que contribuiriam, ainda de forma longínqua e tímida, no processo de eclosão da Revolução Francesa. Inúmeros líderes a seguir, além de Luther (Thomas Munzer, James Wesley, Charles Parham...) trariam novas filosofias que, mais que romperem com a Igreja, romperam com a ordem social vigente. Nesse aspecto, John Calvin, que daria origem ao tronco protestante dito "presbiteriano", propõe ideias fortes no fomento do que viria a ser o Liberalismo:
Essa corrente, diversa do Catolicismo, teria inúmeras interpretações que contribuiriam, ainda de forma longínqua e tímida, no processo de eclosão da Revolução Francesa. Inúmeros líderes a seguir, além de Luther (Thomas Munzer, James Wesley, Charles Parham...) trariam novas filosofias que, mais que romperem com a Igreja, romperam com a ordem social vigente. Nesse aspecto, John Calvin, que daria origem ao tronco protestante dito "presbiteriano", propõe ideias fortes no fomento do que viria a ser o Liberalismo:
- O pobre passa a ser sinônimo de preguiça, em vez de ser um preferido da Igreja. O homem será um predileto de Deus pelo que produza, não pela expiação e oração;
- Se na Bíblia outros grandes homens podiam se casar, o celibato proposto pela Igreja é absurdo. Os pastores deveriam trabalhar, constituir família, ter bens, se autosustentar, produzir "ganhos"...;
- Se na Bíblia outros grandes homens podiam se casar, o celibato proposto pela Igreja é absurdo. Os pastores deveriam trabalhar, constituir família, ter bens, se autosustentar, produzir "ganhos"...;
- Apesar de não pertencer ao discurso de Calvin, se vê nessas ideias a pré-história da "teologia da prosperidade", onde se o homem foi bom para Deus, Deus lhe dará em "dobro" já nesse mundo. Tal como ação e reação, na medida em que a fidelidade humana é demonstrada de forma material, necessariamente se obterá a prosperidade material nesta vida.
Essas ideias, carregadas de clientelismo e antropocentrismo, começam a trazer a ideia de que deve-se trabalhar pelo lucro, e no "cerne", começam a fazer o dinheiro se tornar aos poucos o objetivo absoluto, substituindo a Salvação Eterna. Essa visão acabou por desenvolver ao menos, três grandes fatos históricos, que marcam o fim da Idade Média, e geram prelúdios da Revolução Francesa:
Essas ideias, carregadas de clientelismo e antropocentrismo, começam a trazer a ideia de que deve-se trabalhar pelo lucro, e no "cerne", começam a fazer o dinheiro se tornar aos poucos o objetivo absoluto, substituindo a Salvação Eterna. Essa visão acabou por desenvolver ao menos, três grandes fatos históricos, que marcam o fim da Idade Média, e geram prelúdios da Revolução Francesa:
1º O Mercantilismo - também chamada de fase "comercial" do Capitalismo, essa prática econômica era adotada pelos nações europeias, marcada pela crença de que o acúmulo de riquezas pela nação é a chave da prosperidade da mesma, sendo notadamente essas riquezas associadas aos metais preciosos (ouro e prata). Essa prática era caracterizada por uma forte intervenção dos recém-constituídos Estados Nacionais Modernos. Fato ainda marcante foi o início da exploração de riquezas em outros continentes, o que motivaria as famosas circunavegações por parte dos Estados Nacionais, especialmente Portugal e Espanha;
2º A Revolução Gloriosa - foi a revolução que destituiu o rei Jaime II (da dinastia Stuart, católica), em prol do rei William de Orange, holandês e protestante, em 1688. O sucesso dessa revolução é devido à repulsa de nobres britânicos às tentativas de restituir a fé católica na Inglaterra por parte do rei Jaime, o que lhe custou a fidelidade de suas tropas. Mais que isso, essa revolução barrou a possibilidade de um regime absolutista, estabelecendo o sistema de monarquia parlamentar, com os poderes do rei delimitados pelo Parlamento, fato que vigora até hoje na Grã-Bretanha. Os desdobramentos dessa revolução durariam ainda quase meio século, somente terminado em 1746, com o fim dos levantes jacobitas na Batalha de Culloden;
3º A Primeira Revolução Industrial - é o período do advento das máquinas nas grandes fábricas, o que gerou maior produção de mercadorias e aumento de lucros. Era o início da produção em série, e que aludia ao fim do trabalho artesanal. Decorrida na Inglaterra, tornava esse país um vanguardista na produção em alta escala, que se repetiria em outros países, em especial na Alemanha do século XIX. Foi um processo também tumultuado, onde muitas pessoas eram trazidas a força do campo, sem direitos trabalhistas, em meio a atos de violência terríveis. Além de que, com a substituição do trabalho manual, ficava evadido o talento manual como fonte de renda.
2º A Revolução Gloriosa - foi a revolução que destituiu o rei Jaime II (da dinastia Stuart, católica), em prol do rei William de Orange, holandês e protestante, em 1688. O sucesso dessa revolução é devido à repulsa de nobres britânicos às tentativas de restituir a fé católica na Inglaterra por parte do rei Jaime, o que lhe custou a fidelidade de suas tropas. Mais que isso, essa revolução barrou a possibilidade de um regime absolutista, estabelecendo o sistema de monarquia parlamentar, com os poderes do rei delimitados pelo Parlamento, fato que vigora até hoje na Grã-Bretanha. Os desdobramentos dessa revolução durariam ainda quase meio século, somente terminado em 1746, com o fim dos levantes jacobitas na Batalha de Culloden;
3º A Primeira Revolução Industrial - é o período do advento das máquinas nas grandes fábricas, o que gerou maior produção de mercadorias e aumento de lucros. Era o início da produção em série, e que aludia ao fim do trabalho artesanal. Decorrida na Inglaterra, tornava esse país um vanguardista na produção em alta escala, que se repetiria em outros países, em especial na Alemanha do século XIX. Foi um processo também tumultuado, onde muitas pessoas eram trazidas a força do campo, sem direitos trabalhistas, em meio a atos de violência terríveis. Além de que, com a substituição do trabalho manual, ficava evadido o talento manual como fonte de renda.
Através desses e outros processos, pode ser observado que, desde o fim da Idade Média, há uma busca cada vez maior do lucro em detrimento da verdade, EM NOME do progresso e do conhecimento científico. Além disso, observa-se um descarte crescente de instituições conservadoras de outrora. Esses fatos contribuem para o famoso Liberalismo Econômico, que já tinha grande voga em muitos países, mas que só começou a ganhar forma com as ideologias nascentes na Europa do fim do século XVIII, que eram sintetizadas por apenas um nome: o Iluminismo.
****O Iluminismo
É difícil datar os inícios do movimento intelectual dito iluminista, bem como lhe estabelecer localidade. É certo que teve inspirações no período conhecido como Renascimento, que se deu entre os séculos XIV a XVI, bem como ganhou evidente força durante o século XVIII na Europa, mais fortemente na França, de onde vinham seus maiores pensadores. Mas esse "ideais" já tinham obtido fortes influxos oriundos da Revolução Gloriosa do século XVII, onde o parlamento delimitava a ação do rei da Inglaterra, e assim, fortalecia ações políticas diversificadas.
De forma geral, o Iluminismo foi um movimento intelectual que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas). Nessa argumentação, pregava por meio do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" mudanças políticas e sócio-econômicas. A burguesia favorecia os "ideais" iluministas.
Em resumo, o Iluminismo defendia os seguintes pontos:
- Antropocentrismo (anthropos(humano)+kentron("centro")) - pode ser visto como o contraponto central ao Teocentrismo da Idade Média. O homem (e de forma mais ampla, a humanidade) deve ser o único parâmetro de avaliação da Natureza como um todo. Todas as demais espécies existem apenas a serviço do homem, mas o homem é o centro do Universo. Essa abordagem inicia a separação entre ciência e religião, sendo essa separação fundamental para uma visão "luminosa" dos fenômenos científicos, vistos como sendo necessários para os benefícios do homem, não como conhecimento revelado por Deus (ou qualquer outra divindade). Uma consequência será o estudo da Evolução, e a associação do aumento do conhecimento humano associado a mesma;
- Liberalismo econômico - deveria se dar a eliminação da interferência estatal ou da Igreja na economia, ou seja, a economia deveria agir livre de quaisquer mecanismos ou ações regulatórias. Deveria ser anulada a ação do Estado e de filosofias na Economia. Assim, uma das consequências imediatas era a busca do lucro financeiro para gerar o engrandecimento pessoal e o crescimento nacional, sem que essa busca pudesse ter como centro conceitos como "o bem ao próximo", "a nobreza interior"... em resumo, tudo seria refletido pelo poderio financeiro, o restante seria consequência. Os principais nomes do Iluminismo na linha liberalista foram Adam Smith, que julgava que o mercado tinha por si próprio mecanismos reguladores, John Locke e David Hume, que propunha fortemente a livre concorrência (com consequente detrimento de um Estado frente a outro), bem como a lei de oferta e procura;
- Predomínio da burguesia - na Idade Média, a burguesia era responsável pelo comércio e prestação de serviços, sendo malvistos pela nobreza. Como consequência do advento do liberalismo, o conhecimento econômico fomentava o predomínio dos envolvidos em tais atividades. Frente a expansão mercantilista, os poderes da burguesia cresciam, e os das aristocracias eram relativizados. Dessa forma, uma nova ordem social deveria despontar: a burguesia, que tinha por objetivo atingir maior influência na hierarquia social. Por outro lado, de forma similar à estratificação da Antiguidade Grega, foi fomentada uma classe de discriminados, formada por aqueles que empregavam suas habilidades em troca de salário para seu sustento - o "proletariado", como conceituado pelo marxismo.
E o povo? De fato, o quadro está parcialmente claro para explicar o papel do povo como massa de manipulação nesse contexto histórico. Mas não é possível esclarecer de vez esse quadro sem falar dos antecedentes que desferiram o golpe fatal no Absolutismo francês.
****O reinado de Luís XVI
Luís Augusto se tornou rei de França e Navarra em 1774, aos 19 anos. Sua formação tradicional, bem como sua indecisão característica, conduziriam Luís XVI a uma política de forte conciliação interna, onde ampliou direitos civis para súditos não católicos (como visto pelo Édito de Versalhes), explicando sempre em seus decretos a necessidade de suas ações. Luís XVI manifestava o desejo de ser amado pelo seu povo, e essa é uma das razões de, apesar de aplicável, ele nunca ter assinado uma sentença de morte.
Apesar disso, a França atravessava uma situação econômica delicada, devido aos efeitos da Guerra dos Sete Anos, que resultou na perda de colônias estratégicas na Ásia e América do Norte. Agravava a situação os gastos excessivos da Coroa (algo comum entre os reis de França), acentuado pelos devaneios de criança de Maria Antonieta, a esposa de Luís XVI. Sem habilidade para conduzir a economia, Luís XVI deixou as medidas necessárias a encargo de estudiosos da época, como Jacques Turgot (radical, que propunha reformas em benefício do povo), Jacques Necker e Alexandre Calonne. Necker seria entusiasta do apoio francês a Revolução Americana, como forma de diminuir a influência britânica na América do Norte.
Associado às péssimas safras de 1787 a 1789 (que geraram problemas de abastecimento, e consequentes ondas de fome e de anarquia por todo o país), o apoio aos norte-americanos seria um golpe fatal nos planos de recuperação nacional da economia. Esse fracasso obrigou Luís XVI a duas medidas:
- Convocar a Assembleia dos Notáveis (1787) - nela, o clero local e a nobreza eram convocados a contribuírem no pagamento de impostos. O resultado desse encontro seria desastroso para o rei: indignados com a medida proposta, os "Notáveis" começaram a se associar, entre si e com a alta burguesia, numa tentativa de limitar os poderes do rei;
- Convocar a Assembleia dos Estados Gerais (1788) - pressionado por membros do clero e da nobreza associados a burguesia, e aconselhado pelo diretor geral das finanças Necker, o rei convoca esta Assembleia, que não se reunia desde 1614. Era um esforço derradeiro para aprovar as reformas fiscais necessárias para evitar o colapso da economia. Tais esforços novamente pioraram a situação, uma vez que ficaram claras as tentativas de membros da nobreza de manter seus privilégios.
Dessa forma, mais que humanista, filosófica, política ou sociológica, foi de ordem econômica a circunstância de deflagração da Revolução Francesa. A distribuição das riquezas, o endividamento externo, a crise na produção de alimentos e bens, associados a demografia populacional acentuada desde o século XVII, tornaram o ambiente na França de tensão extrema. O casamento de Luís XVI com Maria Antonieta, fosse por revanchismo ou pelas frivolidades da rainha, tornavam a situação política ainda pior, servindo de força motriz para que os discursos iluministas libertários tornassem a ordem vigente na França em um "barril de pólvora"...
Esse barril explodiu em junho de 1789...
****A Revolução - parte 1
A junho de 1789, o Terceiro Estado (que representava o povo, os "sans-culottes") se organizou na forma de uma Assembleia Nacional Constituinte, onde foi adotada a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão". Tal assembleia impunha limitar os poderes do rei, e os privilégios do clero e da nobreza. A criação da Assembleia Nacional pode ser vista como o deflagrar da Revolução Francesa. No mês seguinte, insuflada por uma notícia infundada, uma multidão armada e furiosa se precipitou contra a prisão da Bastilha, iniciando um processo de anarquia selvagem pelo país.
Da Assembleia Nacional, nascem conceitos hoje fortemente vigentes: os conceitos de direita (não raramente, associado ao liberalismo e ao capitalismo) e de esquerda (não raramente, associado à anarquia e ao comunismo). Na realidade, a associação é mais direta com as posições físicas assumidas pelos membros na Assembleia. Do lado direito da Assembleia, ficavam os moderados, com tendência à conciliação, de boa articulação com a nobreza e a alta burguesia, de maior poder aquisitivo. Eram os girondinos, cujo líder mais notório foi Jacques Pierre Brissot. Do lado esquerdo, membros radicais, desejosos de reformas profundas, associados à baixa burguesia e às classes mais pobres. Eram os jacobinos, cujo líder mais notório foi Maximilien Robespierre.
Retomando: a outubro de 1789, outra multidão fomentada pelos revolucionários, composta de mulheres e de homens disfarçados, armados de forcados e piques, marcharam sobre a residência real em Versalhes, exigindo farinha dos soberanos. Ao fim desse episódio, a família real é conduzida ao Palácio de Tulherias em Paris, onde Luís XVI e família seriam mantidos prisioneiros.
Enquanto isso, os ventos "libertários" sopravam pelo antes Reino de França. Buscou-se aprovar a "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã", idealizada por Olympe de Gouges, sem sucesso (por esse motivo, e por denunciar injustiças no processo de julgamento contra Luís XVI, ela seria executada. Quanta "igualdade"...). Em abril de 1791, são nacionalizados os bens da Igreja Católica, e dois meses depois, os membros do Clero são declarados funcionários públicos. Em junho, através da Lei de Le Chapelier, são proibidos sindicatos e greves, e as assembléias são proibidas de negociar preços de bens e salários de trabalhadores.
No mesmo mês de junho de 1791, deu-se a chamada fuga de Varennes, uma tentativa frustrada (e para muitos, desastrada) de Luís XVI e sua família escaparem para o leste, onde após chegar à Áustria, reuniriam forças para buscar retomar o país. A fuga foi arquitetada por conselheiros e embaixadores, simpatizantes do Antigo Regime. Devido ao espalhafato e a falta de sigilo dos envolvidos, a poucos quilômetros da fronteira, a fuga foi frustrada, e a família real reconduzida a Paris. O resultado foi calamitoso para a família real: de um lado, muitos simpatizantes da monarquia passaram a ver Luís XVI como covarde, sem que ele pudesse merecer mais a simpatia de seu povo; por outro lado, os adeptos da República fundada da Revolução puderam vender a ideia de que o rei não governava pela vontade de Deus, e assim, era um traidor.
A família real ficaria, dessa vez, em rigorosa prisão domiciliar até 1793, quando durante a Convenção Nacional, a janeiro daquele ano, Luís XVI foi guilhotinado. Sua esposa Maria Antonieta sofreria o mesmo fim em outubro...
Apesar de turbulento, o processo da Revolução Francesa se revelou progressivo, durando aproximadamente uma década. Durante o ano de 1791 é finalizada a Assembleia Constituinte, e tem início a Assembleia Legislativa, que dura aproximadamente um ano. Nesse período, a França entra em guerra com a Áustria, que via a prisão da família real como uma violação diplomática da antes aliada nação, uma vez que Maria Antonieta era membro da realeza austríaca. Essa foi a primeira de muitas coligações contra a França, que além de se defender através dos novos poderes constituídos, via a desordem crescer devido a crises internas.
****A Revolução - parte 2
Tem início em setembro de 1792 o período da Convenção Nacional, que durará até outubro de 1795. A Convenção vem a ficar dominada pelos jacobinos de Robespierre, que criam os Comitês de Salvação Pública e de Segurança Geral. A monarquia é abolida e muitos nobres abandonam o país.
Tinha início o período mais sanguinário da "Gloriosa Revolução": O Reino do Terror...
No mesmo mês, um massacre vitima em torno de 1500 pessoas, entre os quais duas centenas de religiosos católicos (o massacre começa com a degola de 23 padres numa abadia em Paris), motivado por rumores de uma "contra-revolução", e perpetrados, entre outros, por membros da Comuna de Paris. Esse e outros episódios ficariam conhecidos como "Os massacres de setembro". Nesse período, os jacobinos executavam tanto opositores (as "cabeças" da família real, Luís XVI e Maria Antonieta), quanto simpatizantes da revolução, como os girondinos e mesmo (pasmem!!!) jacobinos...
Como parte do Reino de Terror que assolou a França, foi promulgada em setembro de 1793 a “Lei dos Suspeitos”. Ela permitiu a criação de Tribunais Revolucionários, para julgar os suspeitos de traição contra a República. Notar: a lei era contra “os suspeitos”!!! Ou seja, se alguém fosse identificado com sendo suspeito de falar contra a Revolução, era dispensado o inquérito policial, e após julgamento sem defesa, o denunciado era quase sempre sumariamente executado no período de 24 horas!!! Um exemplo curioso foi uma das “vítimas”: o jornalista jacobino Camille Desmoulins, agitador responsável por insuflar a multidão contra a Bastilha, e provocar assim um massacre. Seria executado junto com a esposa Anne Lucile.
Ainda no mesmo ano de 1793, teve início o episódio menos falado (e para muitos, o mais vergonhoso) da Revolução: a Guerra da Vendéia. Artesãos e camponeses, cheios de espírito católico e de sentimento monárquico, se revoltaram contra a Revolução e a burguesia das grandes cidades, recebendo apoio da aristocracia local. Teve como o estopim o alistamento forçado de jovens camponeses para formar combatentes contra as nações estrangeiras invasoras (ingleses, austríacos e prussianos). A revolta teve êxitos, mas terminou esmagada em definitivo em 1796 pelo Diretório da Revolução. O número de mortos, segundo a crítica geral é em torno de 200 mil, mas alguns historiadores calculam até 400 mil mortos. Pela forma como foi esmagada, é tida por muitos como o primeiro genocídio da História Moderna.
OBS: o caráter dessa guerra é tão complexo e singular, que não me estenderei mais por aqui. Está em certa produção uma postagem específica sobre o assunto, que mais que guerra, terminaria conhecido como o Massacre da Vendeia...
****A Revolução - parte 3
****O Iluminismo
É difícil datar os inícios do movimento intelectual dito iluminista, bem como lhe estabelecer localidade. É certo que teve inspirações no período conhecido como Renascimento, que se deu entre os séculos XIV a XVI, bem como ganhou evidente força durante o século XVIII na Europa, mais fortemente na França, de onde vinham seus maiores pensadores. Mas esse "ideais" já tinham obtido fortes influxos oriundos da Revolução Gloriosa do século XVII, onde o parlamento delimitava a ação do rei da Inglaterra, e assim, fortalecia ações políticas diversificadas.
De forma geral, o Iluminismo foi um movimento intelectual que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas). Nessa argumentação, pregava por meio do lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" mudanças políticas e sócio-econômicas. A burguesia favorecia os "ideais" iluministas.
Em resumo, o Iluminismo defendia os seguintes pontos:
- Antropocentrismo (anthropos(humano)+kentron("centro")) - pode ser visto como o contraponto central ao Teocentrismo da Idade Média. O homem (e de forma mais ampla, a humanidade) deve ser o único parâmetro de avaliação da Natureza como um todo. Todas as demais espécies existem apenas a serviço do homem, mas o homem é o centro do Universo. Essa abordagem inicia a separação entre ciência e religião, sendo essa separação fundamental para uma visão "luminosa" dos fenômenos científicos, vistos como sendo necessários para os benefícios do homem, não como conhecimento revelado por Deus (ou qualquer outra divindade). Uma consequência será o estudo da Evolução, e a associação do aumento do conhecimento humano associado a mesma;
- Predomínio da burguesia - na Idade Média, a burguesia era responsável pelo comércio e prestação de serviços, sendo malvistos pela nobreza. Como consequência do advento do liberalismo, o conhecimento econômico fomentava o predomínio dos envolvidos em tais atividades. Frente a expansão mercantilista, os poderes da burguesia cresciam, e os das aristocracias eram relativizados. Dessa forma, uma nova ordem social deveria despontar: a burguesia, que tinha por objetivo atingir maior influência na hierarquia social. Por outro lado, de forma similar à estratificação da Antiguidade Grega, foi fomentada uma classe de discriminados, formada por aqueles que empregavam suas habilidades em troca de salário para seu sustento - o "proletariado", como conceituado pelo marxismo.
E o povo? De fato, o quadro está parcialmente claro para explicar o papel do povo como massa de manipulação nesse contexto histórico. Mas não é possível esclarecer de vez esse quadro sem falar dos antecedentes que desferiram o golpe fatal no Absolutismo francês.
****O reinado de Luís XVI
Luís Augusto se tornou rei de França e Navarra em 1774, aos 19 anos. Sua formação tradicional, bem como sua indecisão característica, conduziriam Luís XVI a uma política de forte conciliação interna, onde ampliou direitos civis para súditos não católicos (como visto pelo Édito de Versalhes), explicando sempre em seus decretos a necessidade de suas ações. Luís XVI manifestava o desejo de ser amado pelo seu povo, e essa é uma das razões de, apesar de aplicável, ele nunca ter assinado uma sentença de morte.
Luís XVI, Rei de França de 1774 a 1792, ano de sua deposição. Retrato do pintor Joseph Duplessis, 1775. |
Apesar disso, a França atravessava uma situação econômica delicada, devido aos efeitos da Guerra dos Sete Anos, que resultou na perda de colônias estratégicas na Ásia e América do Norte. Agravava a situação os gastos excessivos da Coroa (algo comum entre os reis de França), acentuado pelos devaneios de criança de Maria Antonieta, a esposa de Luís XVI. Sem habilidade para conduzir a economia, Luís XVI deixou as medidas necessárias a encargo de estudiosos da época, como Jacques Turgot (radical, que propunha reformas em benefício do povo), Jacques Necker e Alexandre Calonne. Necker seria entusiasta do apoio francês a Revolução Americana, como forma de diminuir a influência britânica na América do Norte.
Associado às péssimas safras de 1787 a 1789 (que geraram problemas de abastecimento, e consequentes ondas de fome e de anarquia por todo o país), o apoio aos norte-americanos seria um golpe fatal nos planos de recuperação nacional da economia. Esse fracasso obrigou Luís XVI a duas medidas:
- Convocar a Assembleia dos Notáveis (1787) - nela, o clero local e a nobreza eram convocados a contribuírem no pagamento de impostos. O resultado desse encontro seria desastroso para o rei: indignados com a medida proposta, os "Notáveis" começaram a se associar, entre si e com a alta burguesia, numa tentativa de limitar os poderes do rei;
- Convocar a Assembleia dos Estados Gerais (1788) - pressionado por membros do clero e da nobreza associados a burguesia, e aconselhado pelo diretor geral das finanças Necker, o rei convoca esta Assembleia, que não se reunia desde 1614. Era um esforço derradeiro para aprovar as reformas fiscais necessárias para evitar o colapso da economia. Tais esforços novamente pioraram a situação, uma vez que ficaram claras as tentativas de membros da nobreza de manter seus privilégios.
Assembleia dos Estados Gerais, convocada pelo rei Luís XVI, em 1788. |
Dessa forma, mais que humanista, filosófica, política ou sociológica, foi de ordem econômica a circunstância de deflagração da Revolução Francesa. A distribuição das riquezas, o endividamento externo, a crise na produção de alimentos e bens, associados a demografia populacional acentuada desde o século XVII, tornaram o ambiente na França de tensão extrema. O casamento de Luís XVI com Maria Antonieta, fosse por revanchismo ou pelas frivolidades da rainha, tornavam a situação política ainda pior, servindo de força motriz para que os discursos iluministas libertários tornassem a ordem vigente na França em um "barril de pólvora"...
Esse barril explodiu em junho de 1789...
A junho de 1789, o Terceiro Estado (que representava o povo, os "sans-culottes") se organizou na forma de uma Assembleia Nacional Constituinte, onde foi adotada a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão". Tal assembleia impunha limitar os poderes do rei, e os privilégios do clero e da nobreza. A criação da Assembleia Nacional pode ser vista como o deflagrar da Revolução Francesa. No mês seguinte, insuflada por uma notícia infundada, uma multidão armada e furiosa se precipitou contra a prisão da Bastilha, iniciando um processo de anarquia selvagem pelo país.
Da Assembleia Nacional, nascem conceitos hoje fortemente vigentes: os conceitos de direita (não raramente, associado ao liberalismo e ao capitalismo) e de esquerda (não raramente, associado à anarquia e ao comunismo). Na realidade, a associação é mais direta com as posições físicas assumidas pelos membros na Assembleia. Do lado direito da Assembleia, ficavam os moderados, com tendência à conciliação, de boa articulação com a nobreza e a alta burguesia, de maior poder aquisitivo. Eram os girondinos, cujo líder mais notório foi Jacques Pierre Brissot. Do lado esquerdo, membros radicais, desejosos de reformas profundas, associados à baixa burguesia e às classes mais pobres. Eram os jacobinos, cujo líder mais notório foi Maximilien Robespierre.
Retomando: a outubro de 1789, outra multidão fomentada pelos revolucionários, composta de mulheres e de homens disfarçados, armados de forcados e piques, marcharam sobre a residência real em Versalhes, exigindo farinha dos soberanos. Ao fim desse episódio, a família real é conduzida ao Palácio de Tulherias em Paris, onde Luís XVI e família seriam mantidos prisioneiros.
Olympe de Gouges, feminista e ativista política da Revolução Francesa. Foi executada por denunciar irregularidades no processo que condenaria Luís XVI. |
Enquanto isso, os ventos "libertários" sopravam pelo antes Reino de França. Buscou-se aprovar a "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã", idealizada por Olympe de Gouges, sem sucesso (por esse motivo, e por denunciar injustiças no processo de julgamento contra Luís XVI, ela seria executada. Quanta "igualdade"...). Em abril de 1791, são nacionalizados os bens da Igreja Católica, e dois meses depois, os membros do Clero são declarados funcionários públicos. Em junho, através da Lei de Le Chapelier, são proibidos sindicatos e greves, e as assembléias são proibidas de negociar preços de bens e salários de trabalhadores.
No mesmo mês de junho de 1791, deu-se a chamada fuga de Varennes, uma tentativa frustrada (e para muitos, desastrada) de Luís XVI e sua família escaparem para o leste, onde após chegar à Áustria, reuniriam forças para buscar retomar o país. A fuga foi arquitetada por conselheiros e embaixadores, simpatizantes do Antigo Regime. Devido ao espalhafato e a falta de sigilo dos envolvidos, a poucos quilômetros da fronteira, a fuga foi frustrada, e a família real reconduzida a Paris. O resultado foi calamitoso para a família real: de um lado, muitos simpatizantes da monarquia passaram a ver Luís XVI como covarde, sem que ele pudesse merecer mais a simpatia de seu povo; por outro lado, os adeptos da República fundada da Revolução puderam vender a ideia de que o rei não governava pela vontade de Deus, e assim, era um traidor.
A família real ficaria, dessa vez, em rigorosa prisão domiciliar até 1793, quando durante a Convenção Nacional, a janeiro daquele ano, Luís XVI foi guilhotinado. Sua esposa Maria Antonieta sofreria o mesmo fim em outubro...
A prisão de Luís XVI em Varennes. Estampa de Jean-Louis Prieur (Museu da Revolução Francesa). Agradecimentos: site rainhastragicas.com |
Apesar de turbulento, o processo da Revolução Francesa se revelou progressivo, durando aproximadamente uma década. Durante o ano de 1791 é finalizada a Assembleia Constituinte, e tem início a Assembleia Legislativa, que dura aproximadamente um ano. Nesse período, a França entra em guerra com a Áustria, que via a prisão da família real como uma violação diplomática da antes aliada nação, uma vez que Maria Antonieta era membro da realeza austríaca. Essa foi a primeira de muitas coligações contra a França, que além de se defender através dos novos poderes constituídos, via a desordem crescer devido a crises internas.
****A Revolução - parte 2
Tem início em setembro de 1792 o período da Convenção Nacional, que durará até outubro de 1795. A Convenção vem a ficar dominada pelos jacobinos de Robespierre, que criam os Comitês de Salvação Pública e de Segurança Geral. A monarquia é abolida e muitos nobres abandonam o país.
Tinha início o período mais sanguinário da "Gloriosa Revolução": O Reino do Terror...
No mesmo mês, um massacre vitima em torno de 1500 pessoas, entre os quais duas centenas de religiosos católicos (o massacre começa com a degola de 23 padres numa abadia em Paris), motivado por rumores de uma "contra-revolução", e perpetrados, entre outros, por membros da Comuna de Paris. Esse e outros episódios ficariam conhecidos como "Os massacres de setembro". Nesse período, os jacobinos executavam tanto opositores (as "cabeças" da família real, Luís XVI e Maria Antonieta), quanto simpatizantes da revolução, como os girondinos e mesmo (pasmem!!!) jacobinos...
Como parte do Reino de Terror que assolou a França, foi promulgada em setembro de 1793 a “Lei dos Suspeitos”. Ela permitiu a criação de Tribunais Revolucionários, para julgar os suspeitos de traição contra a República. Notar: a lei era contra “os suspeitos”!!! Ou seja, se alguém fosse identificado com sendo suspeito de falar contra a Revolução, era dispensado o inquérito policial, e após julgamento sem defesa, o denunciado era quase sempre sumariamente executado no período de 24 horas!!! Um exemplo curioso foi uma das “vítimas”: o jornalista jacobino Camille Desmoulins, agitador responsável por insuflar a multidão contra a Bastilha, e provocar assim um massacre. Seria executado junto com a esposa Anne Lucile.
Ainda no mesmo ano de 1793, teve início o episódio menos falado (e para muitos, o mais vergonhoso) da Revolução: a Guerra da Vendéia. Artesãos e camponeses, cheios de espírito católico e de sentimento monárquico, se revoltaram contra a Revolução e a burguesia das grandes cidades, recebendo apoio da aristocracia local. Teve como o estopim o alistamento forçado de jovens camponeses para formar combatentes contra as nações estrangeiras invasoras (ingleses, austríacos e prussianos). A revolta teve êxitos, mas terminou esmagada em definitivo em 1796 pelo Diretório da Revolução. O número de mortos, segundo a crítica geral é em torno de 200 mil, mas alguns historiadores calculam até 400 mil mortos. Pela forma como foi esmagada, é tida por muitos como o primeiro genocídio da História Moderna.
OBS: o caráter dessa guerra é tão complexo e singular, que não me estenderei mais por aqui. Está em certa produção uma postagem específica sobre o assunto, que mais que guerra, terminaria conhecido como o Massacre da Vendeia...
Camponeses revoltosos durante a Guerra na Vendeia, de 1793-1796. Gravura antiga. |
****A Revolução - parte 3
A Convenção Nacional dá a vez ao Diretório em 1795, que durará até 1799. Ele se iniciou após a Reação Termidoriana de 1794, onde os girondinos sobreviventes ao período da Convenção Nacional articularam rápido golpe para derrubar Robespierre e seus jacobinos. O líder revolucionário clamou pelo apoio popular, porém, assombrado pelo Período de Terror, o povo não atendeu ao pedido, e Robespierre foi guilhotinado pouco depois da sua captura, ainda em 1794. Foram extintos os julgamentos sumários e os clubes políticos de jacobinos.
Os girondinos reviram mudanças sociais impostas pela Convenção: resgatou-se o voto censitário, anulou-se o sufrágio universal e a população voltou a ser marginalizada. Quando o Diretório foi formado em 1795, foi estabelecida nova Constituição, onde o intuito principal foi o de proteger os interesses da alta burguesia de dois inimigos: os jacobinos e os ainda leais ao Antigo Regime. Esse governo foi fundamentado em alianças com o exército, e estabeleceu por via armada o fim da participação popular no movimento revolucionário. Culturalmente, o período também é marcado pela recuperação da popularidade da religião, a despeito das medidas tomadas pelos jacobinos.
Essas mudanças provocaram levantes e conspirações, como a Conjuração dos Iguais (1796), liderada por jacobinos e demais radicais restantes, que propunha a "comunidade dos bens e do trabalho" e a "abolição da propriedade privada". Tais levantes seriam também esmagados pelos girondinos.
Para fins econômicos, foram desenvolvidas áreas de pesquisa científica e tecnológica, como a Metrologia, com o intuito de evitar perdas nas trocas comerciais com as nações vizinhas. Assim, procedeu-se com a lenta recuperação econômica francesa.
O fim do Diretório em 1799 é tido por muitos como o fim oficial da Revolução. O golpe do 18 de Brumário estabelece uma nova ditadura, sob o comando de Napoleão Bonaparte, que forma um Império que trará grande turbulência para as nações europeias nos anos seguintes. O Absolutismo francês foi extinto, a monarquia e a nobreza francesas nunca se recuperaram desse período, apesar da tentativa iniciada por Luís XVIII, irmão de Luís XVI, que assumira o trono, devido a morte dos filhos de Luís XVI com Maria Antonieta, e após a derrota de Bonaparte em Waterloo. Essas tentativas chegaram ao fim com a deposição de Luís Felipe I em 1848, quando chegou ao fim a sucessão monárquica de outrora. Com o estabelecimento da Terceira República em 1870, chegam também ao fim os regimes monárquicos franceses.
****Legados?
Como disse no começo, os eventos e "ideais" que originaram da Revolução Francesa modificaram a humanidade. Com o passar do tempo, o caráter da Revolução Francesa inspirou muitos movimentos revolucionários, a maioria radicais, que modificariam nações ao redor do mundo: na Europa, a Primavera dos Povos e os movimentos de unificação italiana (quando chegam ao fim os Estados Pontifícios) e alemã (fundando o II Reich). Nas Américas, as Guerras de Independência na América Espanhola, a Revolução Farroupilha no Império do Brasil, a Revolução Haitiana. E ainda inspiraria mesmo para o início do século XX, conflitos marcantes: a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Primeira Revolução Chinesa.
Muitos dirão que houve mudanças para melhor, afinal, inspiraram:
- A retirada do peso das instituições por trás do homem (leia-se, para os ignorantes, Igreja, Inquisição...), centralizando as decisões e destinos no homem, e em seguida no povo (conforme conceituado por Jean-Jacques Rousseau);
- Permitiram teoricamente a liberação dos mecanismos econômicos, o que permite não depender de hierarquias sociais; ainda vislumbraram a possibilidade de o povo, de forma quase aleatória, questionar os governantes (“a voz do povo não é a voz de Deus”? Aff...);
- Com o fim dos sistemas feudais e absolutistas, deu-se a expansão econômica mundial das nações, que permite por sua vez, uma propensa integração dos continentes, gerando primórdios da globalização;
- os modelos de “moderna democracia”, que foram imputados, permitem que o povo (conforme Rousseau ainda) tenha o direito de eleger de forma igualitária seus representantes (moldes da república jacobina) e "conduzir" seus destinos;
- deram ao povo a possibilidade de, no questionamento dos governantes, serem agentes das mudanças que desejavam (resumindo: revoluções!!!).
Quantas "flores", não? Parece a "primavera" anunciada de Lula para a eleição de 2018...
Permitam-me apresentar alguns "espinhos" agora da "celebrada" revolução...
* Liberalismo econômico - veio a se tornar a separação da moral da política e da economia. O dinheiro tornou-se o bem final das coisas, não mais a riqueza espiritual. O indivíduo é reconhecido pelo retorno financeiro do que ele produz. O indivíduo produz para gerar lucros e mantê-los. Reflexo na sociedade? Políticos são ricos ou ficam ricos depois de alçarem a seus cargos. As empresas buscam cada vez mais aptidões múltiplas (nem sempre coadunáveis) para seus processos de seleção (saber mais de duas línguas, ser graduado, conhecer pacotes de informática múltiplos, ter experiência comprovada em carteira, referências...)? É a era de competitividade (sempre a reciclagem profissional, novos cursos...), do marketing agressivo (“lado a lado com você”, “o melhor plano de saúde”...), das múltiplas tarefas... É a substituição da verdade pelo lucro;
* Tecnocracia – Não há dúvidas de que o progresso e a tecnologia são fundamentais para os avanços humanos. Mas... a que preço? Inspirada pelo pós-iluminista Conde de Saint-Simon, é aludido que os esforços para capacitação, planejamento, desenvolvimento e produção levariam os indivíduos ao "Tecnado". Consequências dessa visão: é esvaziada a nobreza do desforço, da realização. Pessoas que usem melhor a tecnologia têm mais valor que aquelas que realizam tarefas manuais exaustivas (alfaiates, carpinteiros, pedreiros, serventes...). Formam-se tecnocratas, as habilidades manuais vão sendo cada vez mais marginalizadas. E se estende às gerações futuras: a tecnologia do entretenimento esvazia a formação física e mental, as crianças já não praticam jogos, brincadeiras, práticas desportivas... essas recreações são substituídas pelos computadores, vídeo games, redes sociais...;
A tecnologia em excesso, que causa falhas na comunicação em família. Imagem ilustrativa, agradecimento ao site do colégio Pio XII, ES. |
* Nacionalismo – os efeitos da Revolução trouxeram a valorização e identidade dos indivíduos como nação, ganhando contornos ideológicos após a mesma. Enquanto ideologia, o Nacionalismo evoca um espírito de preservação da nação enquanto entidade, nos campos da linguística, da etnia, das culturas. Inúmeros levantes nacionalistas se deram na Europa e no mundo ao longo do século XIX e XX, inspirados na Revolução, sendo que tais manifestações nacionalistas protagonizaram movimentos político-ideológicos sombrios: o Nazismo (na Alemanha), o Fascismo (na Itália), o Iberismo (em Portugal), o Integralismo (no Brasil), além de movimentos para além da Europa, como o nacionalismo revolucionário latino-americano (que recebeu também influxos da ideologia comunista...);
* Imperialismo Europeu – os iluministas David Hume e seu contemporâneo Adam Smith, propunham que um estado só poderia sobreviver em detrimento de outro, dentro de uma "livre concorrência". A correlação com o Imperialismo é imediata! Em face das unificações e formações de novos estados no processo nacionalista pós Revolução, para afirmar tais nações, nasce o processo neocolonialista, que junto com a Nova Revolução Industrial, objetivava buscar mercados consumidores, mão-de-obra barata e matéria-prima para o desenvolvimento industrial. A industrialização tornava países antes unidos ou aliados em nações concorrentes, disputando territórios e fronteiras, agora com exércitos treinados e modernos. As nações imperialistas industrializadas do século XIX promoveram a colonização selvagem da África, da Ásia e da Oceania, num processo que era dito como "civilizatório", mas que tinha como finalidade explorar ao máximo os bens dessas nações. A África foi dividida de forma arbitrária, seguindo o lema "dividir para enfraquecer, enfraquecer para dominar", durante a Conferência de Berlim de 1884. Esse processo dividiu nações amigas e reuniu no mesmo território inimigos de longa data. Processo similar se deu na Índia, na separação dos rivais hindus e muçulmanos, promovida pela Inglaterra. O Imperialismo trará como consequência direta a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que polarizou os maiores artistas desse "jogo": a Inglaterra e a Alemanha. E enfraquecerá de forma assombrosa e humanamente irremediável as nações africanas e asiáticas. De forma quase total, a miséria hoje vigente na África e na maioria do continente asiático é fruto direto do Imperialismo, o que torna possível ver quem sofreu no "detrimento" vislumbrado por Hume e Smith...;
* Capitalismo - o sistema econômico capitalista é mais antigo que a Revolução Francesa, e assim, não é fruto imediato da mesma. O Mercantilismo constituiu a fase comercial do sistema, onde predominavam o acúmulo de metais preciosos, o monopólio e as balanças comerciais. Ele dá vez à fase industrial, impulsionada pela Revolução Industrial na Inglaterra do Século XVIII. Porém, é através da Revolução Francesa (com influxos do Americanismo) que o Capitalismo torna-se um sistema econômico definido, fundamentado e expansionista. Trará como acréscimos ao Liberalismo a produção em série, a competição por meio do controle de preços, os excedentes de produção e, graças a esses fatos, o acúmulo de capital. Observa-se que o advento do Capitalismo liberal, associado a aceleração dos processos industriais, trouxe problemas maiores às classes mais baixas do que as eras feudais e monárquicas. Nas cidades, devido às condições péssimas de trabalho e baixos salários. Nos campos, dado o advento da produção em série, o trabalho manual e artesanal perdeu valor, tornando-se insuficiente para o sustento das famílias camponesas. As consequências desse processo sem controle foram o desemprego e a miséria da maioria do povo;
* Comunismo - durante a "Conjuração dos Iguais" de 1796, François Babeuf, líder da Conjuração, teorizava que as mudanças propostas pela Conjuração só poderiam ser alcançadas com a abolição da propriedade privada. Assim, pode-se afirmar que Babeuf, com seu caráter anarquista jacobino, seria o "precursor do Comunismo", conforme palavras do próprio Karl Marx, e a Conjuração dos Iguais pode ser tida como "o primeiro partido comunista da História". Na realidade, uma das primeiras definições modernas do Capitalismo foi dada pelo próprio Marx, e ele propunha o sistema econômico comunista como reação ao capitalista. Teria como núcleos principais, na busca de uma sociedade comunista, a união dos proletários (indivíduos que vendem suas habilidades de conhecimento e trabalho para seu sustento), a luta de classes sociais, a anarquia de produção e, como consequência, o colapso do sistema capitalista, em face do prevalecimento do proletariado, dado que desapareceriam as classes e o Estado. O processo para conduzir a essa igualdade modelada por Marx seria definido como Socialismo, que iria influenciar diversas ideologias pelo planeta, incluindo o Nazismo;
* Ateísmo/Ceticismo - o Antropocentrismo é cerne de todos os pontos anteriores. Mas ao centrar no homem (e não em Deus) a sabedoria, o conhecimento, a ciência e o progresso, o descarte da moral cristã esvaziará a aplicação de conceitos comuns a todas as religiões (em especial as monoteístas): a família, em vez de ser célula-mater da sociedade, é vista como um conjunto de indivíduos sobre o mesmo teto; a caridade cristã, que ensina a "fazer o bem sem olhar a quem" dá lugar a filantropia, aplicada com o objetivo de retorno futuro, um investimento; a vida, antes sagrada desde a concepção (o juramento de Hipócrates, para todos os médicos, inclui a rejeição de substância abortiva às mulheres), foi reduzida ao conceito de "feto", e esse depois ao conceito de "amontoado de células", para justificar o hoje defendido aborto. Esses processos conduzirão aos questionamentos sobre a religião (tida por Marx como "o ópio dos povos"), ao laicismo (separação entre estado e religião), e num resumo geral, ao Ateísmo de modelos políticos posteriores (notadamente o Comunismo) e ao Ceticismo (filosofado por, entre outros, Freud e Feuerbach), onde, nesse último, a mente humana não tem como atingir certeza alguma a respeito da verdade.
Enfim, notemos: toda vez que vemos pessoas interessadas em economizar não para alguma causa de família ou nobre, mas por um bem supérfluo, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos alguém questionar um dogma ou ensino religioso de forma afrontosa, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos uma disputa desesperada por postos de trabalho e pela necessidade de exaustão de conhecimento para ser aceito, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que a anarquia substitui o diálogo, transformando em "resistência" o terrorismo, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos patrões exigirem de forma competitiva seus funcionários, na busca desenfreada por lucro, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos a formação de oligarquias e cartéis, que neutralizam as soberanias nacionais com crises infindáveis, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos propagandas e estratégias agressivas de marketing, com o mero objetivo de vender produtos, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos o Estado agir de forma autocrática (como ao cercear o porte de armas), ou oprimir a população ou um grupo específico, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos escândalos de corrupção entre os políticos envolvendo dinheiro e esferas de influência econômica, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos a vida humana minimizada a meras formações celulares, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos imagens da miséria extrema em torno do mundo, é fruto da Revolução Francesa; toda vez que vemos um "workaholic", preocupado mais com sua carreira do que com sua família, é fruto da Revolução Francesa; toda vez...
Poderia continuar com muitos outros exemplos, mas essa postagem já vai longe...
"Workaholic", e seu trabalho compulsivo: uma quase exigência do mundo moderno, e que é fenômeno indireto do Liberalismo ideológico da Revolução Francesa. |
***Conclusão
Ao compor esse texto, mais que criticar a Revolução Francesa ou seus frutos, o que objetivei mesmo foi conduzir a uma pergunta simples: Estamos cientes desses frutos? E se sim, o que estamos fazendo a respeito?
Notar que independente de credo, cor, sexo ou opinião política, somos todos seres humanos, com coração, mente e espírito. Assim, ainda que devamos cobrar nossos governantes, líderes e representantes, como disse certa vez Mahatma Gandhi, "devemos ter em nós a mudança que queremos ver". Assim, é no resgate pessoal de tradições, da família, do conhecimento, da prática religiosa piedosa (nesse momento, falo até como católico), da vida justa em comunidade, das habilidades não tecnológicas e, sobretudo numa moral bem fundada, que encontraremos antídoto para o veneno que representou certos ideais "libertários" da Revolução Francesa... veneno que nos relegou a outra forma de escravidão: a de não sabermos mais quem somos, de onde viemos e para onde iremos.
Será possível que a sociedade, como um todo, pode se reencontrar para tanto? Sem necessidade de exasperações políticas, guerras, terrorismos, corrupções e manipulações?
Fica a pergunta.
Obrigado a todos que puderam até aqui ler!!! Abraços aos rapazes, beijos para as meninas, fui...